União da Ilha
Enredo: "Nzara Ndembu – Glória ao Senhor Tempo"
Autores: Marinho, Lobo Junior, Felipe Mussili, Beto
Mascarenhas, Dr. Robson, Rony Sena, Marcelão e MM
Intérprete: Acraílson Forde (Ito Melodia)
Samba Enredo 2017
DOS BANTOS NZAMBI O CRIADOR
GIRAM AMPULHETAS DA MAGIA
SALVE REI KITEMBO
NZARA NDEMBU EM POESIA
PRA DAR SENTIDO À VIDA, TRANSFORMAR
NUMA ODISSEIA RASGA O CÉU, ALCANÇA A TERRA
SAGRADA É A RAIZ NZUMBARANDÁ
KATENDÊ, SEGREDOS PRESERVA
E AVERMELHOU, KIAMBOTÉ NOS FEZ CAMINHAR
NA LUTA ENTRE O BEM E O MAL, FORJOU KIUÁ
SENHORES SAGRADOS, IRÃO CELEBRAR
KUKUANA É FARTURA, NATUREZA A FESTEJAR
NDANDALUNDA A ME BANHAR (ME BANHAR)
SEIVA QUE BROTA O CHÃO
EM RITUAIS DE PURIFICAÇÃO
E NO BALANÇO DA MARÉ (DA MARÉ)
SAMBA KALUNGA NOS TRAZ
DAS PROFUNDEZAS PEIXES ABISSAIS
A CHAMA ARDENTE É FOGO
O FOGO QUE QUEIMA É PAIXÃO
É NZAZI FAZENDO JUSTIÇA
NA FORÇA DE UM TROVÃO
QUE DITA AS LEIS DO UNIVERSO
E NOS ENSINA A LIÇÃO
QUANDO O SOL BEIJOU A LUA
VIU NO CÉU INSPIRAÇÃO
MATAMBA SOPROU
O VENTO LEVOU PRA ANGOLA REINAR
PLANTOU O AMOR
A ÁRVORE DA VIDA É A VIDA QUE DÁ
GIRAM AMPULHETAS DA MAGIA
SALVE REI KITEMBO
NZARA NDEMBU EM POESIA
PRA DAR SENTIDO À VIDA, TRANSFORMAR
NUMA ODISSEIA RASGA O CÉU, ALCANÇA A TERRA
SAGRADA É A RAIZ NZUMBARANDÁ
KATENDÊ, SEGREDOS PRESERVA
E AVERMELHOU, KIAMBOTÉ NOS FEZ CAMINHAR
NA LUTA ENTRE O BEM E O MAL, FORJOU KIUÁ
SENHORES SAGRADOS, IRÃO CELEBRAR
KUKUANA É FARTURA, NATUREZA A FESTEJAR
NDANDALUNDA A ME BANHAR (ME BANHAR)
SEIVA QUE BROTA O CHÃO
EM RITUAIS DE PURIFICAÇÃO
E NO BALANÇO DA MARÉ (DA MARÉ)
SAMBA KALUNGA NOS TRAZ
DAS PROFUNDEZAS PEIXES ABISSAIS
A CHAMA ARDENTE É FOGO
O FOGO QUE QUEIMA É PAIXÃO
É NZAZI FAZENDO JUSTIÇA
NA FORÇA DE UM TROVÃO
QUE DITA AS LEIS DO UNIVERSO
E NOS ENSINA A LIÇÃO
QUANDO O SOL BEIJOU A LUA
VIU NO CÉU INSPIRAÇÃO
MATAMBA SOPROU
O VENTO LEVOU PRA ANGOLA REINAR
PLANTOU O AMOR
A ÁRVORE DA VIDA É A VIDA QUE DÁ
ÊH ÊH NO GIRÊ, ÊH NO GIRÊ
MACURÁ DILÊ NO GIRÁ
É O TEMPO DE FÉ, UNIÃO
O TAMBOR DA ILHA A ECOAR
MACURÁ DILÊ NO GIRÁ
É O TEMPO DE FÉ, UNIÃO
O TAMBOR DA ILHA A ECOAR
Enredo 2017
"Nzara Ndembu – Glória ao Senhor Tempo"
“O Tempo não existe;
a não ser em todo o resto que há!
E Rei, o Tempo, é uma epopeia,
existindo nas coisas todas que hão!
É ausência que se apresenta
como transformadora presença.”
a não ser em todo o resto que há!
E Rei, o Tempo, é uma epopeia,
existindo nas coisas todas que hão!
É ausência que se apresenta
como transformadora presença.”
Pois havia as terras dos Bantos, onde Nzambi Mpungu, o
grande criador e suprema entidade, vivia em seu suntuoso palácio, Nsanzala dia
Nzambi, o Templo da Criação, na origem do universo, entre ampulhetas mágicas e
ornamentos de ouro e marfim. Foi quando surgiu a necessidade de convocar
Kitembo, Rei de Angola, e transformá-lo no Inquice mágico do tempo: o tempo
cronológico e o tempo mítico estariam reunidos para toda a eternidade.
Raios e dias, tempestades e semanas, vulcões e meses,
estações do ano e os anos, maremotos e décadas, os segundos em séculos, os
minutos em milênios, as horas dando sentido à vida! Abriram-se mágicos portais,
que conduziriam razão e emoção no longo existir. O destino e a mutação.
No interior do Palácio, todo dia e noite, criaturas Nlundis
e Fucumbas de ferro protegiam a rara energia maleável e evolutiva- o Nguzu, que
dava a Kitembo o poder de transformar o mundo.
Foi assim que o espírito livre de Kitembo varou os céus e se
fixou na terra, alcançando conexão entre os dois mundos: o sobrenatural e o
material. Criou raízes fortes de uma árvore sagrada, que servia como meio de
comunicação e de transporte ente os deuses e os homens, em comunhão com o
universo.
II
Já lá se vão 4,6 bilhões de anos! Sobre o supercontinente
seminal, aliou-se à Nzumbarandá, a mais velha dos Inquices, e juntos criaram a
natureza na Terra, solicitando que Katendê lançasse sementes que formariam
florestas guardadoras de majestosa biodiversidade.
Este equilíbrio foi maculado com a chegada do grande meteoro
que avermelhou o céu. Foi preciso a ação de Kiamboté Pambu Njila, em forma de
caminhos e de movimento, para que os continentes e o nível do mar começassem a
se mover. Pontes de terra abriram caminhos entre um bloco e outro, permitindo
que primitivos animais migrassem livremente.
No caminho, o Rei de Angola encontrou guerreiros de várias
tribos e ensinou-lhes a cultivar a terra. Era plantar para colher, domesticar
alguns animais, e aceitar que muitas espécies permaneceriam na natureza selvagem.
Kiamboté Kabila Duilo!Gongobira! Mutalambo: salve o caçador dos céus! Kiuá
Nkosi, o Senhor da forja, ao transformar o instrumento de pedra em metal viu os
guerreiros lutando para sobreviver. Da força do ferro, para o bem e para o mal,
surgiram os instrumentos de trabalho e nasceu a natureza bélica.
Kitembo não se abateu, e convocou Kavungo,Inquice da saúde,
da morte e Senhor dos mistériose Nsumbu,oSenhor da terra, para celebrarem a
Kukuana: festa da fartura, da prosperidade de alimentos. O solo da mãe Terra
ganhava assim a sua celebração principal. Em contato com a natureza plena e no
reencontro com seus irmãos de Angola, o guerreiro Kitembo renovou seus laços de
fraternidade, essência de sua ancestralidade, e seguiu viagem.
III
No final da era onde as águas se separam da terra, surgiram
os grandes reservatórios debaixo e em cima da crosta do planeta. Angoro,
Hongolo Menha, o arco-íris no céu, foi quem disso lembrou Kitembo. Era o vapor,
o gasoso hídrico, a água, a seiva da vida, que circundaria toda a terra e
trazendo novos ciclos.
As águas que se precipitam do céu tocados por Kitembo,
Angoro e Bamburucema, se infiltram na terra e depois renascem límpidas e
brilhantes. Fontes de toda a vida, as águas fizeram Kitembo entender a
longevidade, o princípio de toda a cura e a bebida sagrada da imortalidade. Nos
rituais africanos, a água é o elemento fundamental em banhos de cheiro, de
descarrego; nas oferendas em cachoeiras; podendo, de forma mágica, também se
transformar em estado sólido, fazendo surgir na natureza o encanto das
geleiras, a neve e os icebergs.
Foi num mergulho nas águas salgadas, que Kitembo chegou ao
palácio subaquático, cercado de corais, e lá encontrou Samba Kalunga, guardiã
dos segredos dos mares profundos, e Nkianda, a dona de todo o mar e seus peixes
abissais de extrema beleza. A benção das águas salinizadas interagiu com lagoas
e lagos onde a vida e a beleza das espécies aquáticas são mantidas e
preservadas sob a proteção da encantadora Ndandalunda, sereia de águas doces.
Ndadalunda! Kissimbi!
IV
Kitembo sabia que havia um destino solar no seu caminhar, o
assim chamado fogo universal. Diante do poder incandescente, louvou Nzazi, a
divindade do fogo, do trovão, da justiça. Estava diante do Inquice capaz de
fulminar os injustos com sua pedra de raio. Uma chama incandescente que indica
o caminho que deve ser seguido, por aquele que conhece os ensinamentos das leis
do Universo. A força energética, ligada ao impulso da vida, à paixão, à
transmutação; força avassaladora e incrível, associada à motivação, desejo,
intenção, ímpeto e espírito aventureiro. Faísca de divindade que brilha dentro
de nós e de todas as coisas vivas.
A Magia do Fogo pareceu ao Rei de Angola assustadora, porque
os resultados manifestam-se de forma rápida e espetacular, como nosso
metabolismo e as paixões que nos movem. O movimento da ampulheta não cansava de
surpreendê-lo. O encontro do sol com a lua, do dia com a noite, só foi possível
porque o fogo, condutor da magia, a chama da vida estava ali presente nos raios
de sol de mais um dia.
No Sol, nas estrelas, nas fogueiras, nas brasas, nas lavas,
nos vulcões e nas erupções. O frenesi que esquenta nos dias frios e faz
transpirar nos dias quentes. Foi quando Kitembo apreciou o eclipse, mais um
espetáculo da natureza:
E como isso não bastasse, o fogo era o elemento da comunicação,
pois o fogo fala diretamente aos homens. Diante do fogo, o animal se espanta e
foge, mas o humano espanta-se e aproxima-se. E ele faz parte de cultos e
rituais, e desde os primórdios permitiu ao homem inúmeros avanços: o preparo de
alimentos e bebidas, caçadas e no afugentamento de animais e grupos rivais, na
fundição de metais e para fazer renascer as labaredas de fé no coração do
homem.
V
O Rei Kitembo de Angola curvou-se diante do azul celeste,
repleto do elemento Ar, e ali esperou até que surgisse ao seu lado Matamba, a
Inquice rainha dos ciclones, furacões, tufões, vendavais. A guerreira poderosa,
amor e paixão do Senhor do tempo. Contam as lendas que ele gostava de virar o
tempo, apenas para ver Matamba soprar seu vento, tão fundamentais para movimentar
as sementes outrora lançadas na terra. Ali, no chão da terra, onde o homem pisa
com toda a sua humildade, estava a magia do poder transformador dos elementos.
Matamba deu-lhe a mão, e seguiu com ele de volta para a
África, para o Reino de Nzambi. Ali uniram seus súditos na criação de um novo
reino, gerando trabalho e prosperidade por muitos séculos, emanando para todos
os povos irradiações de amor e respeito pelo meio ambiente, a fonte inesgotável
de vida para as futuras gerações.
Que nossa vida seja um canal de manifestação do Reino de
Nzambi, onde quer que estejamos. Que nossa ação, nossa palavra, nosso agir,
revele esse maravilhoso reino com todas as suas potencialidades. E assim
abriremos de volta o caminho para que possamos viver o nosso Tempo.
Como será o futuro da humanidade e a preservação dos
elementos naturais? A união dos povos pela preservação da vida, responderia
Kitembo. Na história do Tempo, a árvore sagrada da vida deixou registrada para
todo o sempre esta cronologia: as raízes do passado, as folhas do presente e os
frutos do futuro. Saravá! Nzara Ndembu!
De um velho soba do deserto de Namibe, para União da Ilha do
Governador.
Carnaval 2017
JUSTIFICATIVA
Angola, Congo! Saravá! Vem de lá o passado, presente e
futuro do universo!
Do seio da África majestosa, mística e misteriosa, da
natureza sagrada, surge a história de um grande Rei que a União da Ilha vem
contar...
Kitembo! A força universal do Inquice Tempo: o grande poder
transformador. Grande mestre, Deus do profano e do sagrado. Deus de todas as
crenças e religiões. O Tempo da respiração, do sopro divino da vida.
A Odisséia de Tempo, o passageiro das ilusões. É a bússola
majestosa que guia os navios, os pontos cardeais, o vento nas velas das
embarcações, as mudanças do tempo astral e do tempo cronológico do homem na
Terra.
Senhor da razão e da emoção. Condutor das sensações e das
emoções que o ser humano sofre ao longo da vida. Mutação, evolução! Faz mudar
os rumos de tudo. O tempo está na luta, na guerra, em momentos especiais que
mudaram destinos e amarraram heranças e civilizações mundo a fora.
A União da Ilha pede licença para dançar no ritmo do Tempo.
Tal qual o povo guerreiro de Além-mar, veste a ancestralidade de um Rei
consagrado no tempo e no espaço. Faz do carnaval, o renascimento e a celebração
do Tempo Rei, aquele que detém o poder de tudo transformar. Com as páginas do
passado, escrever no tempo presente o futuro para uma nova era, um novo tempo.
Com o canto e a força do seu povo, pede bênçãos a Kitembo, e
emoldura as cores de todos os credos e todas as crenças no seu pavilhão. Batam
os tambores para um novo tempo: é tempo de fé para a União da Ilha! Ê tempo! Ê
tempo Nzara Ndembu!