Vila Isabel
Enredo: "O Som da Cor"
Autores: Artur das Ferragens, Gustavinho Oliveira,
Danilo Garcia, Braguinha e Rafael Zimmerman
Intérprete: IGOR SORRISO
Intérprete: IGOR SORRISO
Samba Enredo
A MINHA VILA CHEGOU
OUÇA ESSA VOZ
A PELE ARREPIA AO SOM DA BATIDA…
FORÇA DOS MEUS ANCESTRAIS
HERANÇA QUE FEZ RESSOAR O RUFAR DO TAMBOR
PRA GENTE DANÇAR ASSIM, FELIZ
MARACAS ENCONTRAM TAMBORINS
O REGGAE CELEBRA MENSAGENS DE PAZ
OH MINHA FLOR, QUERO VOCÊ EM MEUS BRAÇOS
BAILANDO NO MESMO COMPASSO
UM TANGO DE DRAMA E AMOR
OUÇA ESSA VOZ
A PELE ARREPIA AO SOM DA BATIDA…
FORÇA DOS MEUS ANCESTRAIS
HERANÇA QUE FEZ RESSOAR O RUFAR DO TAMBOR
PRA GENTE DANÇAR ASSIM, FELIZ
MARACAS ENCONTRAM TAMBORINS
O REGGAE CELEBRA MENSAGENS DE PAZ
OH MINHA FLOR, QUERO VOCÊ EM MEUS BRAÇOS
BAILANDO NO MESMO COMPASSO
UM TANGO DE DRAMA E AMOR
VILA,
“AZUL” QUE DÁ O TOM À MINHA VIDA
UM “SOPRO” DE ESPERANÇA NA AVENIDA
EU FAÇO UM PEDIDO EM ORAÇÃO
OUVI-LA PRA SEMPRE NO MEU CORAÇÃO
“AZUL” QUE DÁ O TOM À MINHA VIDA
UM “SOPRO” DE ESPERANÇA NA AVENIDA
EU FAÇO UM PEDIDO EM ORAÇÃO
OUVI-LA PRA SEMPRE NO MEU CORAÇÃO
UM SOLO DE GUITARRA A EMBALAR
“SOUL” A MAIS PERFEITA FORMA DE EXPRESSAR
EU VOU, EU VOU… ONDE FEZ RAIZ A TRADIÇÃO NAGÔ
EU VOU, EU VOU, FOI
O POVO DO SAMBA QUEM ME CHAMOU
GINGA NO LUNDU, (MORENA)
NEGRO É O REI (É O REI)
TOQUE DE IJEXÁ, (AFOXÉ)
PRA “PURIFICAR” (MINHA FÉ)
GIRA BAIANA, DEIXA A LÁGRIMA ROLAR
QUANDO NO TERREIRO NOVAMENTE ECOAR
“SOUL” A MAIS PERFEITA FORMA DE EXPRESSAR
EU VOU, EU VOU… ONDE FEZ RAIZ A TRADIÇÃO NAGÔ
EU VOU, EU VOU, FOI
O POVO DO SAMBA QUEM ME CHAMOU
GINGA NO LUNDU, (MORENA)
NEGRO É O REI (É O REI)
TOQUE DE IJEXÁ, (AFOXÉ)
PRA “PURIFICAR” (MINHA FÉ)
GIRA BAIANA, DEIXA A LÁGRIMA ROLAR
QUANDO NO TERREIRO NOVAMENTE ECOAR
ÔÔ, KIZOMBA É A VILA
FIRMA O BATUQUE NO SOM DA COR
VALEU ZUMBI, A LUA NO CÉU
É A MESMA DE LUANDA E DA VILA ISABEL
FIRMA O BATUQUE NO SOM DA COR
VALEU ZUMBI, A LUA NO CÉU
É A MESMA DE LUANDA E DA VILA ISABEL
Enredo de 2017
"O Som da Cor”
Apresentação
Ouço um tom de pele. Vejo a música que embala. Me arrepio no
toque da batida, saboreando o ritmo que dela exala. Sinto cheiro daquela gente
sofrida, no brilho da voz que não cala. Esta é a saga daqueles que migraram
forçosamente, para um já velho novo mundo. Após séculos no cativeiro, tingiram
estas Américas e as fizeram crioulas. Gerações que se seguiram colheram os
frutos desta musicalidade, semeada por seus ancestrais. Vozes e percussão
revelando seus ritmos, no bater do pé e na palma da mão. Instrumentos
inventados ou adquiridos de outras culturas.
De início, navego milhas, nas ondas latinas, aportando nas
Antilhas, como os hispânicos reinóis, seus descobridores. Entre chocalhos e
maracas, o canto e a dança, ao som da habanera cubana. Do culto ao etíope
monarca africano, nasce o movimento rastafári caribenho, disseminado pelo
reggae jamaicano. Seguindo para o sul da colônia, conhecemos a cúmbia,
"dança dos escravos" da Colômbia. No Uruguai, a dança com atabaques
tem como candombe seu codinome. Bantos, de origem, seguem para a prateada
Argentina, muitos partindo do Brasil. Embarcavam, levando em si uma cultura
genuína, que, transportada em cada cargueiro, chega ao porto de Buenos Aires
vinda do Rio de Janeiro. Assim nascem a milonga e o tango, seu irmão, que no
dialeto banto quer dizer círculo, baile, tambor ou reunião.
Além das coroas ibéricas, outros reinos colonizaram o
continente; ingleses e depois seus colonos americanos, que se proclamaram
independentes, disputaram com espanhóis e franceses novos territórios. E neles
aportaram navios negreiros; a mão de obra escrava, nos brancos campos de
algodão, era despejada. Proibidos de falar, cantavam. Cantando, dividiam dor,
amor e cânticos de louvor. Blues, ou “azuis”, era referência às pessoas de pele
negra e à melancolia nas plantações. Pai do jazz, que contém um banzo, uma
saudade. Nova Orleans foi o berço. Os instrumentos das bandas marciais, uma vez
abandonados, após a derrota dos sulistas na guerra civil, foram reaproveitados.
Segregados, os irmãos de cor dedilhavam o teclado em igrejas para os fiéis.
Restava-lhes pouco espaço, somente em bares, clubes e bordéis. Assim o “ritmo”
vai dominando o suingue do compasso. Do boogie-woogie e do jump blues, nasce um
novo gênero que, ao som de guitarras, pelo mundo inteiro, a juventude
conquistou: “Aumenta que isso aí é rock'n roll”. Está na alma, está no soul! Na
pista disco. No funk e no techno. Negro é rap, é hip hop. Ser negro é ser pop.
Agora ouço, das terras brasileiras, histórias que a memória
traz. Bantos, iorubás, jejes, minas e hauçás, sobrevivendo entre a dor e a
gana, na ex-colônia lusitana, deram início a uma íntima relação entre música e
fé. E ao seu culto chamaram “calundu”, e em seus “batuques” na mata aberta, nos
cafundós do sertão, uma cultura se manifesta. “Se negro festeja, não
conspira", diz o amo branco, que assim permitia. Na roda dos negros, virou
lundu, uma dança sensual que, junto à fofa e ao fado, atravessou o Atlântico e
conquistou Portugal. Este último se une aos cantos dos mouros, às cantigas dos
trovadores, da saudade inerente dos marinheiros. Consolida-se como canção
solista, inspirada na dança estilizada. Revela-se que o grande orgulho luso,
ora pois, tem um pé na senzala.
Nas ruas daqui, o toque da zabumba chama o povo para o
festejo, ao relembrar a coroação do rei do congo num sincrético cortejo, das
embaixadas da nobreza negra, sua corte e seus vassalos. A devoção da irmandade
negra católica à padroeira dos escravos. Salve Nossa Senhora do Rosário dos
Pretos, salve São Benedito. Batem tambores, marimbas e ganzás, nas batidas de
caxambus.
Dos reisados, de Chico Rei coroado e dos maracatus. Festejando em
louvação, simulam lutas nos autos negros que saúdam a Divina Senhora da
Purificação. Na tradição nagô, o “candomblé de rua”, na cadência do ijexá com
seus xequerês e agogôs, é representado pelo afoxé. E nos trios elétricos
brincam ao ritmo do axé. Dos grandes mestres e batutas, choram flauta e
cavaquinho. As modinhas, polcas, maxixes, pilares do meu carinhoso chorinho. E
nos grandes encontros se fez o jongo, conhecido como caxambu e corimá.
E o samba, que vem de "semba", a angolana
"umbigada", mexe e remexe nos seus requebrados. Sincopado e
malandreado. Vem exibir, com as palmas e a resposta, os seus passos e
rebolados. Meu tamborim de bamba, valorizando a batucada. Com as bênçãos de
Ciata e das "tias baianas", na Praça Onze e na Pedra do Sal, na
Pequena África carioca. “Brasil, esquentai vossos pandeiros, iluminai os
terreiros”, que a negritude tem a primazia. E é dessa cor que falo, que meus
sentidos expressam, naquele que é considerado o maior espetáculo. Trazendo os
matizes de cada pavilhão, a escola que o samba fez. E ao som das cores da Vila,
que é Azul, Branca e Negra também, vem kizombar mais uma vez.