Escola sempre cercada de muita expectativa por ter se transformado no maior papão de títulos da era moderna do desfile das escolas de samba, a Beija-Flor de Nilópolis vem mais uma vez com um carnaval imponente e pomposo para brigar pelo seu 14º campeonato. Dessa vez a escola traz um enredo de temática indígena para completar uma espécie de trilogia que se iniciou em 2015. Depois de falar da áfrica, através da Guiné Equatorial, em 2015, do europeu em 2016, é a vez de colocar o índio no foco em 2017. Dessa forma a escola conclui a formação do povo brasileiro, como nos explica o carnavalesco Fran Sérgio, da comissão de carnaval da Beija-Flor.
– A cara da escola estará diferente. Sempre vimos luxuosos e pomposos. O José de Alencar valoriza muito a cultura indígena. Então nós viremos vestidos de palha, de semente, uma escola rústica, sem paetê, sem strass. Eu analiso que falamos nos últimos anos da história do Brasil. A origem africana, o europeu e agora é hora de trazer o índio. Essa é a história da gente – ressalta.
A temática indígena se desenvolve através de um dos romances mais consagrados da literatura brasileira. ‘A virgem dos lábios de mel, Iracema’ traz a história de amor proibido entre uma índia e um europeu, o que desencadeou uma grande guerra entre tribos rivais no Ceará. Fran comenta que a aceitação do enredo por parte da opinião pública tem sido muito positiva.
– Estudei no colégio o livro, é uma obra que está no subconsciente das pessoas. O enredo foi muito bem recebido por todos. O romance tem 152 anos, isso combina bastante com a Beija-Flor. Vamos vir totalmente indígenas. Estamos todos muito felizes com esse tema, o samba encantou todo mundo de cara – suspira o membro da comissão de carnaval.
A Beija-Flor se acostumou a causar o impacto pelos seus carnavais luxuosos. O próprio desfile de 2016 trouxe uma forte imagem de riqueza ao contar a história do Marquês de Sapucaí. Entretanto Fran avisa que as pessoas devem esperar uma Beija-Flor diferente em 2017 na avenida. Ele demonstra essa mudança estética através dos materiais utilizados e das iluminação das alegorias.
– Tem muita palha, madeira, semente, peneira. Esse peso da mata, da reutilização, como o índio faz. Tem muita pena de pato, uma das mais baratas. Vamos vir coloridos, naturais. A Beija-Flor vem totalmente indígena. Não é uma iluminação pirotécnica. É algo cênico. O enredo pede que seja assim. Cada momento de Iracema será mostrado em nossas alegorias – explica.Fran considera que a crise econômica que atinge em cheio o carnaval, no barracão da Beija-Flor, já vem sendo trabalhada nos últimos anos. Por isso a escola vem reduzindo e reaproveitando materiais nos últimos carnavais, o que diminuiu um pouco do impacto da recessão neste ano.
– Essa recessão não apareceu agora. Tem uns 4 anos que a Beija-Flor vem diminuindo custos, fugindo de coisas importadas. Isso fez com que descobríssemos caminhos, uma experiência legal como artista. Não podemos é descaracterizar a escola, mas é claro que reaproveitamos e reciclamos como as demais. A Beija-Flor está se superando – recorda.Sem alas em 2017 a Beija-Flor tem como grande aposta uma maneira diferenciada de se contar um enredo em um desfile de escola de samba. Os atos e as tribos, guardados a sete chaves pela escola, são explicados por Fran Sérgio para a reportagem do site CARNAVALESCO.
– A nossa formação é diferenciada. É totalmente indígena, seja em qualquer aspecto. Visual, canto e dança. A Beija-Flor não tem alas em 2017. Nós temos tribo, ato e carro. Vamos mudar a forma de se contar um enredo em um desfile de escola de samba. Algo inovador que jamais foi visto na Sapucaí – gaba-se.
Setor 1
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Setor 2
“Iracema encontra o Martin na mata. Ele se perde, ela flecha ele e se apaixonam. A partir daí partem para a casa do Arakén, o pai de Iracema e partir dali se desenrola toda a trama. Os dotes ritualísticos. Os tabajaras causam uma revolta grande, mas ela consegue usar bebidas para alucinar a tribo e foge com o Martín e vai viver com os pitiguaras, a tribo inimiga dos tabajaras.”
Setor 3
“A guerra de pitiguaras e tabajaras virá representada. Eles se digladiam devido a essa condição de Iracema se envolver com um inimigo e as duas tribos acabam dizimadas. Iracema fica solitária pois o próprio Martin vai lutar. Fica grávida, tem seu filho sozinha e fica debilitada. Quando ele volta, ela está morrendo.”
Setor 4
“Martin fica com o filho, o Moacir. É primeiro indivíduo miscigenado do Brasil, fruto do branco com o índio, a união das duas tribos que tanto guerrearam fica representada na figura dessa nova vida.”
Setor 5
“Encerramos com o Ceará. O teatro José de Alencar e tudo que resultou dessa bela história. É uma história de amor, o carnaval da Beija-Flor.”