“Gilberto Gil – A música do mundo do artista da paz”
Presidente – Darly Silva (Neguitão)
Carnavalescos – Alexandre Louzada, Chico Spinosa, André Marins, Junior Schall e Delmo de Moraes
Texto – Alexandre Louzada
Sinopse do Enredo
Subo nesse palco, eu sou o samba, sou a Vai-Vai, orgulho da retinta
herança com a minha aura clara e devota de quem preza o louco bumbum do
tambor. Sou a Saracura, que, neste instante mágico, se põe a voar mais
alto, até onde a imaginação alcança, em uma fantástica aventura, uma
viagem inventada em versos nas linhas de partituras a constelações de
melodias, regidas pela força “G” de uma estrela maior, um sol de brilho
intenso aberto sobre o Brasil – estrela esta que hoje nos guia, estrela
Gilberto Gil.
No combustível da ilusão que nos leva, cintila o real teor de beleza
que, quanto mais nobreza, carrega um canto, um poema, uma oração como um
desejo de querer falar com Deus. Tenho que me aventurar, subir ao céu,
que de certo Deus fará acontecer, dessa estrela se permitir e se deixar
cantar assim, contando que a vida seja como um altar que a gente
celebre, transcorrendo, transformando esse espaço em um tobogã onde a
gente escorregue e navegue em uma órbita sem fim.
Tempo rei, ó tempo rei! Que de todos os meninos sãos, é o grão e a
semente de sons, de sanfonas e clarins de bandas, nas bandas do sem fim,
de infância, cesto de alegria de quintal, como o Sítio encantado de
Lobato que de cedo te fascina.
Faz-se o redemoinho no vento do tempo, do Tororó a Ituaçú, refazendo a
história, redesenhando a trajetória com a régua e o compasso que a
Bahia te deu e se rejuvenesça temporão, na lúdica visão de abacateiros e
regatos, do verde do mato e de sol amarelo como os retalhos de Emília.
Tosco como o sabugo Visconde nas lições de sua avó que trazem cheiros e
gostos, sabores de goiabada de marmelo, azedo e amargo, são doces
tenros, lembranças do menino jiló.
Frutos legados a amadurecer na refazenda mental, amanhecendo
canções, regada por um cântaro de bálsamos de quem tem na testa, o Deus
sol como um sinal… E assim, na inquieta juventude, fogo eterno a
consumir, fez-se o canto cantar o cantar.
E a vida corre como os dedos nas cordas de um violão que um dia se
ouviu nos acordes de uma nova bossa, na voz calma de um João e se deixou
atrair imantado, fazendo do instrumento a sua nova paixão.
Mas é tempo mutante, movimento gigante, roda que gira, viramundo e,
num simples segundo, ideias e sonhos se unem à canção; entre
parangolés, cores de Oiticica, flores a brotar na Tropicália,
parafernalha fértil e febril a sair às ruas, mãos nuas, voz da razão, de
tantos Josés e outros Joãos contra o braço de chumbo de um Brasil na
desconstrução a marchar entre espinhos que ferem e sorvetes que gelam o
coração na cena aberta de um teatro dantesco no 5º ato da repressão.
Grades que então selam o destino, sentença que amordaça voz e
pensamento, verso “subverso”, cala-se, cálice… E ondas correntes na
tormenta insana, atando grilhões invisíveis e arrastando um mar de
mágoas na viagem do desterro para se ocultar por trás da bruma fria; a
bagagem de saudades.
E da terra que se fez seu abrigo, seu e de muitos amigos, ecoaram
recados, gritos sofridos por tantos presos e sumidos para nunca mais…
Mas a música, alento da distância, se alimenta de novos sons ao enxugar
lágrimas, desatando frases nós que deslizam na garganta como um não, não
chore mais… Sim, bem que tu lembras de um janeiro bordado de esperança
que desembarcou aqui, repleto de novos sonhos, canções de exílio e
tantas outras por vir… E assim surgiu tão exotérico, assim, eclético,
antecipado como um expresso além do tempo, para depois do ano 2000,
trazendo a novidade em sons e cores, tal qual um Maracatu atômico como
jamais se viu, unindo África, Jamaica e Bahia; Doces Bárbaros para o
jejum do Brasil.
E hoje se ergue aqui um monumento, um imenso monolito a sua
caminhada, caminhadura, de tatame, na luta pela nossa cultura és o herói
da resistência, super-homem a nos restituir a glória através da música,
a sua essência. Essa noite, eu venho para a festa e trago a minha
banda, pois só quem sabe onde é Luanda saberá te dar valor.
Andar com fé, eu vou, no altar do samba que te celebra, a paz
invadiu o meu coração e o Brasil se une ao mundo num laço e hoje é todo
mundo que te manda, de braços abertos: AQUELE ABRAÇO!