A Grande Rio vai levantar poeira! A escola de Duque de Caxias pretende fazer um carnaval animado em busca do título inédito. Apostando na história da maior cantora baiana de todos os tempos, Ivete Sangalo, o carnavalesco Fábio Ricardo contou com a ajuda da própria para desenhar o enredo da tricolor de Caxias. Ao site CARNAVALESCO, ele revelou alguns detalhes dessa “parceria”.
– Esse enredo já estava escolhido pelo presidente, desde novembro 2015. Só duas pessoas sabiam dessa escolha, eu e David Brazil. Guardamos segredo, pois só seria anunciado depois que passasse o carnaval. Isso tudo surgiu a partir de uma brincadeira do David com a própria Ivete. Ele a chamou para ser rainha de bateria da Grande Rio, e ela falou que não, que não aceitaria o convite, a não ser que ela fosse o próprio enredo da escola. Claro que ela disse isso brincando, mas David levou isso ao presidente, o presidente fez o convite a ela, e ela aceitou. Hoje temos a Ivete Sangalo na Grande Rio, ela trouxe uma grande energia para dentro da escola, um axé, como diz o baiano incrível. Isso vem contagiando a gente desde a nossa pesquisa, que fiz com a minha professora da faculdade, UFRJ, Elenise Guimarães.
Ainda sobre a pesquisa, o carnavalesco explica como foi feito o levantamento da vida de Ivete Sangalo.
– Até monografias de pessoas que já haviam falado da Ivete na faculdade nós conseguimos esse material. O livro dela, uma série de coisas. Só que, a gente precisava desse sentimento, de como saber se aquilo completava a Ivete. Aí fizemos uma entrevista com ela, que durou de 19h30 até às 23h40, só conversando como se fôssemos amigos de anos, porque ela tem essa energia, o que você vê na TV, nos palcos, é ela sentada com você tomando um café. Ela é assim, traz com ela aquela mesma estrela que brilha e a simplicidade e humildade. Durante esse papo ela externou todo o sentimento dela, do que imaginava que fosse a Ivete, do que ela queria mostrar para as pessoas. Ela deixou bem claro que ela queria mostrar uma Ivete sertaneja, uma mulher do sertão da Bahia, que veio das margens do rio São Francisco, da terra do chão rachado, que brincou nas águas, que conheceu o carnaval da Bahia, que tem uma bagagem familiar muito grande, e daí não parou mais e despontou. Rascunhamos tudo isso, mostramos a ela e ela aprovou – conta Fábio.
Levando a história de vida e carreira de Ivete Sangalo para a Avenida, o carnavalesco acredita que a Grande Rio vai deixar não só uma imagem de alegria, mas também uma mensagem cultural.
– Esse desfile da Grande Rio não será somente a história de uma diva da música popular brasileira. Além da empolgação dos componentes, queremos deixar a mensagem de que esse desfile é altamente cultural, de arte popular brasileira. Mostraremos do divino ao profano, detalhes regionais do Brasil, um Brasil que poucas pessoas conhecem. O público poderá conhecer um pouco do artesanato da Bahia, a história do carnaval baiano. Temos setores da escola que vamos falar dos ritmos da Bahia, do que o carnaval da Bahia é feito, o Afoxé, os blocos, o Olodum, o Ilê Ayê. Milton Cunha esteve aqui e afirmou que vamos mostrar culturalmente um país, e isso me deixou muito feliz, era o que eu mais queria que o carnaval entendesse, que dentro de uma personalidade que é a Ivete, que existe toda essa bagagem – revela Fábio.
Considerada uma das escolas mais bem estruturadas administrativamente, a Grande Rio se preparou desde o início para administrar possíveis problemas financeiros, não só da escola, mas também dos próprios fornecedores que muitas vezes não tem o material necessário em estoque.
– A gente está nesse processo de financeiro desde o início de tudo. O problema da crise, é que não afeta só a gente, mas também os fornecedores, que às vezes não tem o material em grande quantidade no estoque. Então em alguns materiais básicos eu fui alternativo, e em cima desses materiais básicos tive que criar adereços, pinturas de arte para o material se transformar. E o resultado não foge em nada daqueles materiais que estamos acostumados a ver no carnaval. Porém materiais mais baratos, porém remodelados, como o feltro, o pastilhado, o lamê, de um bom espelhinho. O acabamento é fundamental.
Com um carnaval de fácil leitura, Fábio Ricardo revela estar apaixonado por cada alegoria da agremiação, por todo seu conjunto, e confessa ser difícil escolher uma alegoria ou setor preferido.
– Cada carro, cada alegoria, tem sua leitura e sua informação diferenciada. Acho que o conjunto todo da escola, com o grito na garganta do povo de Caxias, que está com vontade de cantar o samba, será a emoção maior, o grande diferencial – ressalta.
Prestes a levar para a Avenida uma história inédita, a Grande Rio foi buscar no mercado o melhor em iluminação. Visto que a maior parte da vida de Ivete ela passa em cima dos palcos e trios, a escola não pretende deixar falhas nesse complemento das alegorias.
– A gente viu algumas novidades no mercado, mas tudo dentro do orçamento da escola. E tem um diferencial aí no meio dessa história, mas é surpresa.
Fabio confessa não ter gostado muito das mudanças no regulamento para o carnaval 2017.
– Gostar eu não gostei muito, mas eu me adaptei, conversei com a diretoria de carnaval para saber como organizar esse grande enredo e essa Grande Rio, dentro do tempo. Ajustamos fantasias, analisamos o que íamos reduzir o que poderíamos ensaiar mais para acontecer da melhor maneira. Essas mudanças já chegaram para gente muito antes de começarmos a desenhar o projeto, eu ainda estava em fase de pesquisa, e aí quando montamos o organograma a gente já sabia o que precisaria ser ajustado.
– A Ivete aprovou tudo que fizemos. A gente foi trocando informações a todo tempo. Ela deixou um conteúdo histórico muito bom para gente, durante a entrevista nós gravamos tudo, e ela detalhou cada parte da vida dela e como ela gostaria de ter isso retratado na Avenida. O melhor de tudo isso foi quando apresentamos os protótipos das fantasias a ela, e não precisamos legendar absolutamente nada. Ela reconheceu cada coisa, se identificou principalmente no início da vida dela.
Conheça o desfile da Grande Rio:
Setor 1
“Pegamos nosso primeiro setor para falar do Rio São Francisco. Usamos uma lenda que acontece entre as cidades de Juazeiro e Petrolina, que é a serpente dos olhos de fogo. A menina perde o horário olhando para sua imagem no Rio, se torna em uma serpente, corre para a Ilha do Fogo, e ali ela é presa pelos três fios de cabelo de Nossa Senhora das Grotas, sendo que desses três fios, dois já se arrebentaram e fizeram uma grande inundação na cidade anos atrás. O terceiro fio prende essa serpente, mas na nossa licença poética ele se solta na Avenida, inundando ela de emoção e alegria. Neste setor encontraremos as lendas do Rio São Francisco, a procissão da Nossa Senhora, tudo aqui que foi o início da vida da Ivete nas margens do Rio”.
Setor 2
“O segundo setor vem contando história da família dela. Falamos do pai que era um cacheiro viajante e deu a primeira viola para ela, da mãe, uma pernambucana que brincava de Careta na rua, as festas de São João, a saída dela de Juazeiro, levando toda essa bagagem cultural”.
Setor 3
“Neste setor apresentamos o carnaval da Bahia. Quando ela chega a Salvador, e se dá conta de que escutou a primeira música de carnaval, que é ‘Pombo Correio’, do Moraes Moreira, e aí ela não para mais”.
Setor 4
“Ela se identifica muito com a musicalidade da Daniela Mercury, da Margareth Menezes e do Luís Caldas, então ela junta esses três ritmos, desses três ícones, e se dá o que é a Ivete Sangalo. Ela entra na Banda Eva”.
Setor 5
“Ivete lança sua carreira solo e vai para o mundo, até chegar nesse mundo que é Caxias, onde ela se identifica com uma família nordestina, que é o povo de Caxias, e encontra o carnaval e recebe o convite da Grande Rio. A gente antecipa o futuro, para homenagear Ivete”.
VIA: CARNAVALESCO