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Beija-Flor canta em oração e aclama parceria de Di Menor campeã na disputa de samba

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FOTO: CARNAVALESCO
O que faz um samba nota 10? Segundo o manual do julgador uma letra poética que descreva bem o enredo com melodia que facilite o canto e a dança durante o desfile é merecedor de nota máxima. Mas uma obra de arte musical é muito mais que isso. 

Ao contar perfeitamente o enredo e abusar de frases melódicas inspiradas a parceria dos compositores Di Menor BF, Kiraizinho, Diego Oliveira, Bakaninha Beija Flor, JJ Santos, Julio Assis e Diogo Rosa fez a Beija-Flor cantar em oração na grande final desta quinta-feira e terminou o concurso de samba consagrada campeã. A parceria campeã levou para casa o troféu D´SAMBA/CARNAVALESCO.  ‘Monstro é aquele que não sabe amar. Os filhos abandonados da pátria que os pariu’ é o título do enredo da escola de Nilópolis para o desfile do ano que vem.
Os compositores, do chamado samba 04, escreveram seus nomes na história dos belos sambas da Beija-Flor. É a primeira vez que todos da parceria, formada no ano passado por crias da escola, vencem uma disputa. E o triunfo veio justamente em um ano que a safra nilopolitana foi uma das melhores do carnaval carioca. Di Menor, aos prantos, conseguiu revelar que a inspiração para a construção do samba veio de sua própria trajetória.

– Tem um samba lindo que o Neguinho da Beija-Flor gravou chamado ‘Problema social’. Essa canção conta a história de um menino que diz que não é um problema social porque deseja. Essa é a minha história de vida. Eu me inspirei no que eu mesmo já vivi para escrever essa obra. Hoje estou chorando de alegria, mas as lágrimas já foram de tristeza e desespero. Só quem passa por isso sabe a dor da rejeição. Chorei muitas vezes ouvindo nosso samba pronto e não dá para medir a felicidade em poder tocar o coração das pessoas através da música – diz o poeta campeão.

beija-flor_final2018_161  Foram muitos os méritos do samba ao longo de sua perfeita apresentação. O primeiro foi a aceitação da quadra. Praticamente todos os presentes cantaram com a alma a passagem do samba durante os 20 minutos de apresentação. Sem deixar o rendimento se abalar em nenhum momento o samba provou ser o melhor para representar o desfile da escola. Tinga teve mais uma impressionante atuação e foi o cantor absoluto nas disputas para 2018. As passagens poéticas emocionaram a todos na quadra.

Filho de Gilson Bakana, parceiro de Neguinho da Beija-Flor no carro de som durante anos, Bakaninha comemorou a conquista na disputa de samba e dedicou ao pai.
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– É uma emoção muito grande. A gente vem lutando há muitos anos e esse sonho é meu. Gostaria de dedicar para o meu pai, minha avó que está lá em cima, e para essa comunidade. É o primeiro samba que eu ganho, na minha escola de coração, a escola que eu nasci, que cresci. Se não fosse a Beija-Flor, eu nem sei onde eu estaria, o samba tem tudo a ver com a minha vida.

Para o compositor Kiraizinho, o momento do país é propício para o enredo da Beija-Flor.

– Acho que tudo que nós brasileiros estamos sentindo hoje, vivendo muita intolerância, falta de amor, falta de cuidado, nós temos que botar para fora a nossa indignação. É hora de fazer um grande arrastão de alegria.

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Irmão da rainha de bateria, Diego Oliveira celebrou sua conquista inédita na escola, marcando ainda mais o nome da família na história da Beija-Flor.

– Minha segunda final e minha primeira vitória. Nesse momento é tão difícil falar, cada pedaço da sinopse tocou a gente de uma forma diferente, por tudo que estamos passando no nosso país. Eu acho que vai pegar na avenida a parte que diz ‘mas o samba faz essa dor dentro do peito ir embora’, ela retrata bem o que está nos passando – afirmou Diego.

O diretor geral de carnaval e harmonia da Beija-Flor falou à reportagem do CARNAVALESCO sobre a safra e apontou um balanço sobre a disputa da Beija-Flor nesse ano.

– Recebi com satisfação as obras para esse desfile. Achei que os compositores compreenderam a intenção desse enredo. Buscamos mais uma vez alternativas para realizar uma disputa mais justa, com as eliminatórias no nosso barracão, levando para a quadra apenas aqueles sambas que passaram pelas eliminatórias iniciais. A comunidade é quem escolhe o samba na Beija-Flor – afirma Laíla.

Neguinho vai receber prêmio na Alemanha

As finais na Beija-Flor de Nilópolis fogem ao padrão adotado pelas demais agremiações. A começar pelo show de apresentação. São os próprios cantores da escola quem comandam o pagode. Laíla colocou os sambas finalistas para se apresentarem em um ritmo mais cadenciado antes das apresentações tradicionais e o samba 04 já demonstrava sua força. A quadra veio abaixo quando Neguinho da Beija-Flor assumiu o microfone e entoou o exaltação da escola, o samba de 2017 e o de 1983. Tão logo terminou a apresentação do cantor, começaram as apresentações finalistas.

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O intérprete da Beija-Flor de Nilópolis há mais de 40 anos saiu da festa da escolha do samba da agremiação para o Carnaval de 2018 direto para a Alemanha. Neguinho da Beija-Flor irá receber um prêmio por sua contribuição ao carnaval. Em tempos em que a folia sofre na cidade do Rio de Janeiro, o reconhecimento de fora faz um afago. O cantor disse que não se sente melhor que os demais, mas atribuiu a fama ao tempo que tem na escola.

– Eu sou o mais antigo, não o mais importante. Todos são importantes. Eu sou o mais antigo, talvez, na mesma escola e isso me dê mais um pouco de crédito – afirmou.

Neguinho considera uma perda o fim dos ensaios técnicos, mas acredita que ainda haverá mudanças e as agremiações passarão pela Sapucaí antes dos desfiles oficiais. Ele também aproveita para contar o que espera do samba eleito.

– A escola sendo a última tem que ter um samba que empolgue, um samba que empolgue a Avenida e que seja de fácil assimilação – comentou.

Cid Carvalho exalta a seriedade da Beija-Flor

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Regressando para Beija-Flor, o carnavalesco Cid Carvalho conversou com o site CARNAVALESCO sobre as qualidades do samba campeão e a preparação da escola para o desfile de 2018. Ele explicou que, apesar da torcida de escola achar o enredo da escola de Nilópolis não tem nenhuma relação com ratos e urubus assinado por Joãosinho Trinta.

– Não tem nada a ver com fatos e urubus. É uma Beija-Flor nova em todos os sentidos. O próprio olhar da direção é um olhar diferenciado. Nós estamos nos recuperando do último desfile, o que houve de positivo e funcionou de verdade. Vamos aprimorar o que poderia ter funcionado e não funcionou. Vamos vestir a Beija-flor com uma roupagem popular. Ratos e urubus era outra pegada, mas hoje estamos com outra proposta. Por isso, o samba tem que ter pegada. A Beija-Flor vai fechar o carnaval – disse.

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Fazendo coro a todo o mundo do samba, Cid Carvalho lamentou o fim do ensaio técnico, mas exaltou a seriedade de sua escola nos seus ensaios.

– É péssimo. O ensaio técnico era o reencontro do povo com a escola de samba. A pessoa que não tem dinheiro para comprar ingresso do desfile ia ver sua escola. A Beija-Flor, como escola de samba, não sofre tanto porque ela ensaia em sua quadra. Se não for a única, é uma das poucas escolas que ensaiam verdadeiramente. Para o povo eu acho de uma infelicidade, uma falta de sensibilidade gigantesca, é negar o povo uma das maiores paixões – afirmou o carnavalesco, que não negou o enredo ter semelhança com o da Mangueira.

– Não tem nada a ver com a Mangueira. A Verde e Rosa resgata o carnaval de rua, irreverente. A gente faz uma crítica social nacional, o nosso olhar é para o Brasil, sobre os filhos abandonados dessa pátria.

Beija-Flor pensa em resgatar ensaios da Atlântica


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Com o fim dos ensaios técnicos, várias escolas têm pensado em alternativas para treinarem suas evoluções antes de pisarem na Avenida para o carnaval. Segundo o diretor financeiro da Beija-Flor, Almir Reis a escola tem o desejo de recuperar uma tradição e voltar a fazer um desfile na Avenida Atlântica.

– Os ensaios da Atlântica tem tudo para voltar a acontecer. Há mais de 20 anos não fazemos e vamos tentar voltar com essa tradição. Ainda não tem previsão – disse.

No entanto, ele também reforçou que os ensaios na quadra são sempre diferenciados das coirmãs. Almir aproveitou para falar do amor pela escola, que já dura 49 anos, e a dedicação de ser o homem de confiança do presidente de honra, Anísio Abraão David. Sobre o trabalho com Laíla, ele demonstrou admiração.

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– Laíla é essa coisa de ser bravo, aquele grito todo ali é tudo da boca pra fora, o coração dele é maior do que o grito. Ele ama o que faz, é um professor e isso dá mais vontade de trabalhar. Passa essa energia pra gente – explicou.

Almir Reis foi o responsável por dar à Beija-Flor a sorte de encerrar os desfiles dos Grupo Especial na segunda-feira em 2018. No sorteio, ele foi tirar a número após o Chiquinho, presidente da Mangueira ter tirado o número 9, ou seja, para que a Beija-Flor escolhesse a ordem do desfile, era preciso tirar a bolinha de número 10, qualquer outro número a vantagem de escolher seria concedida à Mangueira.

– Ali quando o presidente Chiquinho tirou a bola nove eu disse: ‘caramba, 8 pra 1 é difícil, mas não é impossível’. Eu fui lá e papai do céu abençoou e eu peguei a bola certa – comemorou.

Emoção na volta do casal Claudinho e Selminha

Personalidades do mundo do carnaval marcaram presença na quadra. A final teve ainda o retorno do casal Claudinho e Selminha Sorriso, depois que o mestre-sala enfrentou problemas particulares e precisou se afastar. Selminha foi, mais uma vez, um show à parte com uma roupa que fazia referência à bandeira do Brasil. A porta-bandeira cantou todos os sambas finalistas, mas se emocionou mesmo com o da parceria campeã.

Selminha ressaltou a enorme felicidade de estar dançando novamente com o mestre-sala.

– Estou feliz demais, depois de quase 27 anos juntos, cada ensaio é uma entrega, estreia, comprometimento, aprendizado. Estou muito feliz por ele porque é um cara super do bem, que ama o que faz – disse Selminha, que estava com uma roupa azul, que no peito estampava uma bandeira do Brasil e uma saia verde e amarela.

O mestre-sala trajava um terno inteiramente azul. Ele agradeceu aos que o apoiaram nesse período turbulento. O casal contou que em momento algum teve medo de se separar para o carnaval de 2018. Selminha se disse tranquila. Claudinho ressaltou a força da família Beija-Flor.

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– Isso aqui não é uma escola é uma família. A gente se falava todo dia, conversava com todo mundo. Eu sou normal, eu sou igual a qualquer um e um ser humano normal. As coisas acontecem com qualquer pessoa, mas fui abraçado por todos aqui, meus tios, primos, parentes, e a minha mãe – contou.

Andamento da bateria é segurança de mestre Rodney

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Mestre Rodney, comandante da bateria da Beija-Flor, revelou que segue insatisfeito com as notas e justificativas dos jurados do último carnaval. Porém, ele frisou que está satisfeito com o trabalho feito e que a bateria teve um satisfatório andamento na avenida.

– Se eu for levar pela nota, perdemos um décimo, mas a bateria foi mais uma vez maravilhosa. Ensaiamos exaustivamente. Resultado teve na avenida. Infelizmente, as justificativas dos jurados não são plausível, eu não entendo – afirma o mestre.
Rodney explica que não pretende fazer mudanças para 2018. Para ele, a bateria está com entrosamento e em ‘time que está ganhando não se mexe’.

– O desempenho foi maravilhoso. O andamento de 2016 foi uma coisa, o de 2017 outra. Tocamos de acordo com o samba e sua característica. Não vou mudar nada na bateria para o ano que vem. É igual time de futebol quanto mais entrosado melhor. Quem escolhe o andamento é a escola junto com Laíla – garantiu Rodney.

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A rainha Raíssa apostou em um modelito nas cores da bandeira do Brasil. Ela fez uma grande produção para a noite da final de samba.

– Minha roupa representa o enredo que está falando do Brasil.
Rainha desde os 12 anos, ela diz que tem a honra de ser da comunidade.

– É uma das escolas top. Estou no cargo há 16 anos. É motivo de muita honra. Tudo que tenho na minha vida devo para Beija-Flor. Ela constrói vidas – declarou Raíssa.

Análise das outras apresentações:

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Parceria de Sidney de Pilares: Uma competente apresentação que abriu em bom nível a final da Beija-Flor. Numerosa a torcida cantou o samba do início ao fim demonstrando bastante garra. O rendimento caiu muito pouco e o samba cumpriu um excelente papel na acirrada final.

Parceria de Júnior Trindade: O samba acabou tendo uma apresentação irregular, apesar de nitidamente parecer ser o preferido de Neguinho da Beija-Flor que cantou efusivamente. A torcida em alguns momentos não cantou o samba em sua totalidade e a apresentação como um todo foi morna.

Parceria de Serginho Aguiar: A parceria foi criativa ao colocar alguns compositores vestidos de pastores, em clara provocação ao Bispo Crivella, prefeito do Rio de Janeiro. Foram muitas as apostas visuais dos compositores, mas a apresentação não foi satisfatória com rendimento bastante irregular durante os 20 minutos, apesar da garra e qualidade do intérprete Zé Paulo Sierra.

CRÉDITO DA MATÉRIA E FOTOS: CARNAVALESCO
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