Interessado pelas artes desde os primeiros anos de vida, o atual Campeão do Grupo Especial do Carnaval de São Paulo e Carnavalesco da Acadêmicos do Tatuapé, Wagner Santos comemora em 2019, a assinatura de seu vigésimo segundo Carnaval. Com passagens marcantes por escolas renomadas como Mocidade Alegre, Unidos de Vila Maria e Acadêmicos do Tucuruvi o sabor de levantar um título só foi desfrutado em 2018, com a sua atual agremiação.
Curioso, e com apenas 12 anos, Wagner Santos que nasceu em São Luís do Maranhão recorda que frequentava uma Igreja Católica para reverenciar os santos e ajudar as senhoras voluntárias a decorar os andores. “Eu era um grande admirador das peças religiosas, o gigantismo, o luxo, aquela riqueza, tudo muito parecido com a grandiosidade do Carnaval, o que me fez ficar cada dia mais envolvido. Cada peça religiosa que eu observava tinha mais vontade de dar palpite”, lembra emocionado.
FOTO: WAGNER SANTOS - RAIO X
Com a cabeça sempre voltada para arte, Wagner até que tentou trabalhar em outros seguimentos, mas não teve jeito, suas aspirações eram outras. “Eu tentei trabalhar num escritório, mas não deu muito certo. Minha primeira oportunidade foi no SBT, com o Silvio Santos, fiz muitos trabalhos em cenografia, figurinos e peças para adereço. Depois migrei para a área de publicidade em grandes multinacionais, sempre no desenvolvimento de personagens para o marketing e a propaganda”, relembra.
Outra passagem marcante na trajetória de Wagner Santos foram os mais de 10 anos que o artista se dedicou aos concursos oficiais de fantasias do Rio de Janeiro. “Fui considerado o “oconcur” do Carnaval carioca, por tirar diversas vezes o primeiro lugar. Fui obrigado a deixar de concorrer, abrindo espaço para outros profissionais. Neste mesmo período trabalhei com nomes renomados como Jesus Henrique e Clóvis Bornay, era uma aula diária, o que me deu uma bagagem que carrego até hoje”, recorda.
Em 1997, surge a oportunidade de se tornar efetivamente um Carnavalesco, Wagner chega a Mocidade Alegre pelas mãos de seu Carlos Cruz Bichara, pai da atual presidente, Solange Bichara, que já o admirava pelos trabalhos que desenvolvia no Rio de Janeiro. “Confesso que estava muito assustado, e nem eu mesmo acreditava que seria capaz de desenvolver um Carnaval. Mas hoje sei que foi no momento certo, permaneci na Morada do Samba por três anos, e conquistei um quarto, sétimo e terceiro lugar”, orgulha-se.
Com a necessidade de alçar novos voos, o artista assume o desafio de tirar a Unidos de Vila Maria do Grupo de Acesso do Carnaval de São Paulo e consolidar a agremiação na elite, e foi o que ele fez. “Eu fiquei na Vila Maria por dez anos, de 2001, ano em que fomos campeões no Grupo de Acesso até 2009, obtive excelentes resultados, o melhor foi em 2007 com o enredo “Vila Maria: Canta, encanta com minha história... Cubatão rainha das serras”, conquistamos o vice-campeonato. Sem dúvida a Vila foi a escola que me proporcionou a maior experiência na carreira, lá eu aprendi a lidar com o gigantismo das alegorias e o aperfeiçoamento do meu próprio trabalho. Graças a Vila Maria hoje eu posso trabalhar em qualquer tipo de barracão, seja ele pequeno ou grande”, exalta.
No ano seguinte, 2010, Wagner aceita o convite da Acadêmicos do Tucuruvi e fica na escola do Zaca por sete anos. “Eu discordo quando as pessoas dizem que o Carnaval é uma festa igual todos os anos. A cada desfile precisamos renovar, cada Carnaval é uma nova dificuldade, uma superação diferente, são experiências que precisamos sempre estar construindo, como um quebra cabeça que precisa juntar suas peças. Todos os artistas precisam se aperfeiçoar, aprender as novas tecnologias e coloca-las em prática”, argumenta.
Ao conquistar em 2018, o seu primeiro título do Grupo Especial do Carnaval de São Paulo e em seu primeiro ano de Acadêmicos do Tatuapé, Wagner Santos revela ter chegado ao momento mais sublime de seu trabalho. “Eu consegui atingir meu objetivo. Depois de tantos Carnavais eu coroei o meu trabalho com essa conquista. Eu me sinto cada vez mais rejuvenescido fazendo Carnaval, a arte renova as pessoas. Hoje eu estou em uma comunidade muito participativa e isso me revigora a cada dia que entro nesse barracão”, afirma.
Perfeccionista, Wagner garante que sua maior preocupação em 2019, é entregar um desfile inesquecível para aqueles que apreciaram o Carnaval de São Paulo. O Carnavalesco reitera que seu maior comprometimento é trazer o seu melhor para a passarela do samba. “Será um Carnaval para presentear todos os brasileiros. Um desfile colorido, que irá homenagear os grandes guerreiros da história e os grandes guerreiros da nossa comunidade, a Tatuapé. Sem desmerecer nenhuma comunidade, se Deus nos permitir traremos esse tri”, comemora.
Dentre os muitos ensinamentos que os anos de barracão lhe renderam, o artista e incisivo em relatar as responsabilidades que o cargo que exerce tem. “O Carnaval tem um traço a ser seguido, e ele precisa manter as suas tradições. E a maior lição que ele me dá diariamente, é que precisamos uns dos outros, é impossível fazer um desfile de escola de samba sozinho. Se eu não tiver o apoio da harmonia, a bateria não funciona, se não tiver a bateria não tem o carro de som, e por aí vai. O meu maior apoio foi e sempre será a comunidade, e é para ela que junto com toda a nossa diretoria fazemos esse lindo espetáculo”, pontua.
Para o artista, o Carnaval precisa sempre estar se reinventando, sendo criado sobre aquilo que já foi criado, é assim que podemos definir o seguimento nos dias de hoje. “Os meus desfiles mesclam trabalhos novos, adereços, placas e plumas que são adaptadas de outros Carnavais. Hoje para enriquecer o nosso espetáculo não podemos começar do zero, precisamos recicla, o fato de guardar um material que pode ser utilizado em outro Carnaval mexe também com o meio ambiente, com a sustentabilidade e principalmente com a economia, precisamos ter essa consciência. Reciclar é muito mais difícil do que criar”, argumenta.
Reconhecido por vários profissionais como uma das pessoas mais generosas e parceiras dentro do mundo do samba, Wagner Santos, sabe reconhecer aqueles que sempre estiveram ao seu lado. “Eu tenho dois amigos, companheiros de barracão, o Waldeci e o Vagner. Começamos junto, e ambos seguem comigo por onde eu vou. Eles me ensinam e aprendem comigo, evoluímos juntos, crescemos, e nos tornamos sem sombra de dúvida profissionais respeitados. A vida é feita de oportunidades e eu agradeço a todos que de alguma maneira me ajudaram, eu procuro sempre dar a chance para os jovens que estão iniciando a sua carreira, afinal, eu também já fui jovem e precisei de uma oportunidade”, comemora.
Hoje, com 53 anos, o artista revela que a maior fã é Dona Maria do Carmo, sua mãe guerreira que criou com muito apreço os seus cinco filhos, visto que perdeu o marido muito cedo. Em entrevista especial para a Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo, o Carnavalesco Campeão reforça que sem o apoio da família nada seria possível. “Eu sou muito família, e reconheço que eles fazem parte de cada conquista, eu sou feliz com a vida que escolhi. O Carnaval me ajudou em vários aspectos e eu conquiste uma certa estabilidade graça a ele. Tenho orgulho de fazer parte do crescimento e da evolução dessa festa popular e tão brasileira, eu sei que dei uma grande contribuição”, finaliza.